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10/05/2017
Pesquisa sobre caatinga revela problemas em áreas de proteção ambiental
Ocupação irregular de terras, desmatamento, falta de estrutura e de demarcação. Esses foram alguns dos problemas em uma pesquisa que estudou a caatinga brasileira. Durante três anos, estudiosos acompanharam 14 unidades de conservação federais de proteção integral localizadas nesse bioma. As descobertas estão publicadas no Atlas da Caatinga, material que traz em detalhes informações fundiárias e da flora de cada uma das áreas estudadas.
A pesquisa foi feita entre dezembro de 2013 e dezembro de 2016, período onde os pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) percorreram mais de 22 mil quilômetros nas unidades de conservação. Nelas, não é permitida qualquer atividade econômica ou mesmo o uso sustentável, exceto o turismo e a pesquisa científica.
Para montar o diagnóstico foram entrevistados todos os chefes das unidades de Conservação, além de funcionários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), moradores da região, professores que desenvolvem estudos nesses locais, entre outros.
Segundo Neison Freire, pesquisador titular da Fundaj que coordenou a pesquisa, cada unidade tem problemas específicos, mas a falta de recursos humanos e financeiros é uma constante e acaba agravando as dificuldades locais. “Todas têm problemas de gestão, que não é local. O problema está em nível federal, na pouca atenção dada a esse bioma, o único exclusivamente brasileiro”, afirma.
Ele pontua que os entraves vão desde a falta de combustível para veículos de fiscalização até a indisponibilidade dos próprios carros. Outro exemplo mencionado foi a falta de dinheiro para consertar uma bomba d'água, impedindo que um espaço disponível para receber alunos e professores de escolas públicas seja utilizado.
Ocupação nociva
A sociedade também contribui para ameaçar esses espaços protegidos. Como as unidades de conservação pesquisadas não podem ter atividade econômica, as populações que ainda residiam ou tinham alguma atividade na área, quando elas foram criadas, deveriam ser indenizadas e remanejadas.
Além de comunidades de povos tradicionais, como indígenas e quilombolas, resistirem à mudança, fazendeiros permanecem nos locais proibidos. “Alguns foram indenizados e não querem sair e outros estão especulando para ter maior valorização da terra para se retirar, o que gera muitos problemas para a gestão e fiscalização das unidades”, informa Freire.
Retrato e propostas
Segundo o pesquisador, maior problema das unidades está em Pernambuco, no Parque Nacional do Catimbau. O local não possui um único escritório do ICMBio e a sua demarcação nunca foi feita. Além disso, há conflitos fundiários, corte de madeira e atividade econômica dentro da área. Outra unidade onde foram encontrados problemas é um dos cartões postais brasileiros: O Parque Nacional da Chapada Diamantina.
O Atlas das Caatingas inclui ainda recomendações para uma proteção efetiva às áreas estudadas. Entre as propostas estão a abertura de concurso público e mais recursos financeiros para a demarcação de terras, regularização fundiária e outras questões consideradas urgentes pelo estudo.
Sobre o bioma
Apesar de se estender por 10 Estados, formando uma cobertura de 844 mil quilômetros quadrados, a caatinga é um dos biomas brasileiros menos estudados no país. É o único bioma encontrado exclusivamente no Brasil e costuma ser lembrado pelo visual na época de seca, quando as árvores perdem a folhagem e a mata se torna cinzenta.
Agência CNM, com informações da Agência Brasil