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11/11/2015
Defesa Civil recomenda que ninguém volte para o distrito de Bento Rodrigues
Nesta terça-feira, 10 de novembro, o coordenador da Defesa Civil de Minas, coronel Helberth Figueiró de Lourdes, afirmou que, mesmo após encerradas as buscas por vítimas na região, vai recomendar que ninguém volte para o distrito. “Há quatro ou cinco metros de lama compacta em Bento Rodrigues. Mesmo se houver condições de os moradores voltarem, vou sugerir que isso não aconteça.”
Bento Rodrigues - na verdade é um subdistrito de Camargos, este sim, distrito de Mariana - tinha aproximadamente 600 habitantes antes da tragédia. Foi fundado no século 18, no início da exploração de ouro que tinha Ouro Preto como principal centro. Se a recomendação da Defesa Civil for seguida, a localidade, que nasceu com a mineração do ouro, morrerá com a do minério de ferro.
A Mina da Alegria, nome dado ao complexo do qual faziam parte as duas barragens que ruíram, começou a ser explorada em 1992. O complexo tem reservas estimadas em 400 milhões de toneladas de minério de ferro. São retirados atualmente da mina 10 milhões de toneladas do metal por ano.
O coronel afirma que o mais importante no momento é saber como a empresa se posicionará em relação à indenização que será dada às famílias que perderam suas casas. “É preciso saber se receberão dinheiro, se serão adquiridas moradias em outros locais.” Na segunda-feira, o Ministério Público em Mariana informou que vai pedir à Justiça que determine o pagamento imediato de um salário mínimo por família atingida, por tempo indeterminado.
Samarco
Os impactos do rompimento das barragens de Fundão e Santarém ameaçam o futuro da Samarco. A mineradora também procura experiência internacional de empresas que já lidaram com desastres. No Município de Anchieta, no sul do Espírito Santo, a empresa anunciou ontem que só tem minério de ferro até o próximo dia 14.
O Diretor de Operações e Infraestrutura, Cleber Terra, informou que "empresas com experiência internacional estão sendo consultadas" para auxiliar na gestão da crise ambiental. Segundo a empresa, um cronograma de ação deve ser apresentado às autoridades, mas ainda não há estimativa sobre os prejuízos com o rompimento.
Na parte funcional, confirmou-se que 85% dos 2,5 mil empregados da empresa em Ubú estão de licença remunerada desde ontem. E em dezembro todos entrarão de férias coletivas, com volta prevista só para 4 de janeiro. A empresa, segundo Terra, terá 50 dias de estudo do caso para tomar as próximas iniciativas para a volta das atividades no balneário capixaba.
Prevenção e gestão de riscos de desastres
Diante da magnitude deste desastre, surgem muitas perguntas que talvez nunca serão respondidas. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) destaca algumas que das quais essa entidade aponta que sejam de extrema importância:
- Porque o Sistema de Alerta e Alarme não funcionou de forma adequada naquele dia?
- Nos anos de existência da SAMARCO, alguma vez se trabalhou com planos de preparação, resposta e principalmente como prevenção dos riscos dos quais as barragens apresentavam?
- Existia algum plano de contingência?
- Existiu algum tipo de simulado com os órgãos competentes de segurança pública, saúde e demais áreas que tratam de riscos ambientais?
- Existia algum tipo atividade entre os entes públicos, iniciativa privada e sociedade civil organizada relacionada a segurança das barragens e da população?
- Houve algum tipo de instrução e educação junto aos moradores do Distrito atingido?
- Existia algum tipo de fiscalização dos órgão competentes?
- Diante dos riscos e da fragilidade das barragens existiu algum tipo de notificação das autoridades competentes, se existiu, será que ele foram sanados?
- Quem será responsabilizado?
- Em algum momento o governo do Estado prestou algum tipo de orientação técnica e especializada aos órgãos municipais de gestão de riscos?
- Por quanto tempo os efeitos negativos dessa tragédia irão permanecer?
- Quais serão a dimensão dos impactos humanos, materiais e ambientais aos municípios atingidos?
- Onde estão os Ministros do Meio Ambiente, Ministério da Integração e demais governantes do País como a presidenta? Porque eles ainda não se pronunciaram publicamente? Eles devem não devem explicações à população?
- Porque o trabalho de prevenção de riscos no Brasil não é levado a sério como nos demais países?
- Porque espera-se acontecer tragédias sem o mínimo de monitoramento e prevenção de desastres no Brasil?
As maioria das perguntas aqui levantadas talvez nunca serão respondidas por ninguém, mas a CNM mais uma vez alerta que o nosso país não trabalha com prevenção de desastres.
No Boletim de julho deste ano, a entidade destacou que que nos últimos 10 anos, o Brasil gastou mais de R$ 6 bilhões ações de defesa civil, destes recursos, apenas 2% foram investidos em ações de prevenção e monitoramento de desastres, ou seja, 98% destes recursos foram destinados a ações de resposta e reconstrução das áreas destruídas por desastres.
A Confederação destacou naquele boletim que a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) não trabalha com ações de prevenção.
Diante desta triste realidade, a CNM lamenta que em nosso país espera-se primeiramente tragédias como de Mariana/MG acontecerem para somente depois se tomar as devidas providências. É preciso adotar uma mudança radical na forma de trabalhar com gestão de riscos, principalmente as autoridades do poder público federal.
Não se pode esperar que os desastres ocorram sem o mínimo de gestão, é preciso prevenir e monitorar para que desastres como de Mariana não ocorram mais. Como é de conhecimento de todos, quem sofre são as pessoas atingidas. Os efeitos são devastadores e danos humanos e ambientais assim como o prejuízos econômicos e financeiros decorrentes de um desastres sem o devido monitoramento são muito maiores e as vezes nenhum Ente consegue pagar a conta.
Agência CNM, com informações do Estado de Minas