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05/02/2016
Zika: doença neurológica atinge cada vez mais adultos e vacina ainda é polêmica
Além do aumento de casos de microcefalia, os hospitais brasileiros estão recebendo cada vez mais jovens adultos que lutam para sobreviver após desenvolver uma forma severa da síndrome de Guillain-Barré. Esta doença neurológica está sendo associada à infecção pelo vírus zika.
Dois dos seis internados no Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, estão em estado muito grave. Duas semanas após a infecção eles começaram a apresentar sintomas de comprometimento do sistema nervoso. Alguns ficaram totalmente paralisados. “Temos visto que os casos associados ao zika parecem ser mais severos do que os casos clássicos de Guillain-Barré. Além disso, o número de doentes aumentou muito” alerta o professor titular e coordenador de pesquisa e pós-graduação em Neurologia da UFF, Osvaldo Nascimento.
Entre os casos mais severos está o de um jovem completamente paralisado, que respira com a ajuda de aparelhos. Ele está consciente, mas consegue mexer apenas os olhos para se comunicar. Outro fator que está preocupando os médicos é que o tratamento é muito caro pois precisam de imunoglobulina e plasmaferese. “Só o custo por dia da UTI [Unidade de Terapia Intensiva] por paciente é de cerca de R$ 10 mil. Se você incluir os remédios, chegamos à casa dos R$ 50 mil por paciente em UTI por dia. É preciso uma ação urgente de autoridades municipais, estaduais e federais“ desabafa Nascimento. Outro ponto que deve ser levado em consideração são as sequelas que costumam ser graves; muitas vezes, a reabilitação leva anos e demanda assistência altamente especializada.
Estudos internacionais
Para proteger a população mundial, a vacina contra o vírus zika está sendo pesquisada. Porém a comunidade internacional reclamou dos entraves burocráticos para a disponibilização de material de estudo pelo Brasil. Por isso, o Ministério da Saúde relatou que os acordos com os países que já manifestaram interesse estão sob análise para garantir benefícios mútuos de propriedade intelectual. Caso uma vacina seja descoberta, a patente poderá ser compartilhada com o Brasil ou ser oferecida sob uma licença aberta.
O fato é que é importante lembrar o que aconteceu durante o surto de H1N1 na Indonésia. O governo local cedeu amostras do vírus e, meses depois, uma vacina foi produzida. Mas as empresas se recusaram a fazer qualquer concessão comercial à Indonésia.
Empresas privadas
Mas no setor privado os cientistas de grandes laboratórios apontam que precisariam de mais amostras do vírus. A lei no Brasil impede que ampolas ou amostras sejam compartilhadas ou exportadas. Material genético também é vetado, além de amostras de sangue. Em caso de emergência, como no caso do surto do zika vírus, uma lei e um decreto presidencial autorizam o Ministério da Saúde a fazer acordos multilaterais e a tornar o material disponível
Porém o assunto é controverso. O virologista Paulo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador da Rede Zika, aponta que a situação é contrária. “O CDC [Centro de Controle de Doenças] e os NIH [Institutos Nacionais de Saúde] estão recebendo tudo. Soro, placenta, vírus. Os estrangeiros que dividam o material que já têm lá. Não recebi nenhuma proposta, nenhum convite para ter acesso ao material que a gente precisa desesperadamente para testar, por exemplo, os métodos de diagnóstico” afirma Zanotto.
Doações de sangue
Agora a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou “adequado” restringir doações de sangue de viajantes oriundos de países de risco, de modo a evitar uma eventual propagação do vírus.
O Canadá e a Grã-Bretanha já se adiantaram em relação às restrições. As autoridades de saúde canadenses anunciaram ontem que os viajantes que voltam das regiões de maior risco devem esperar 21 dias após regressar para doar sangue. O mesmo aconteceu com a Grã Bretanha, agora o viajante só pode doar após 28 dias na Europa.
Da Agência CNM, com informação da Agência Brasil, Estadão e o Globo.