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31/10/2018
Fundação de pesquisa alerta para potencial ciclo silvestre de zika no Brasil
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) alertou para um possível ciclo silvestre para a zika no Brasil. A informação se baseou no fato de o vírus da zika ter sido encontrado em carcaças de macacos em regiões de São José do Rio Preto (SP) e de Belo Horizonte. Diante da sinalização, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) reforça a importância de os Municípios intensificarem as ações de combate ao Aedes, principalmente nesse período de início de chuva.
Os macacos pesquisados haviam sido mortos pela população local, quando se suspeitou que pudessem estar acometidos por febre amarela. De acordo com a Fapesp, não estavam, mas a infecção por zika fez com que adoecessem e se tornassem mais vulneráveis. “A descoberta indica que existe o potencial de um ciclo silvestre para a zika, a exemplo do que ocorre com a febre amarela”, explica o coordenador do estudo, à Agência Fapesp, Maurício Lacerda Nogueira.
Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), Nogueira explica: “se o ciclo silvestre for confirmado, isso muda completamente a epidemiologia da zika, porque passa a existir um reservatório natural a partir do qual o vírus pode reinfectar muito mais frequentemente a população humana”. Apesar do vírus já ter sido encontrado em macacos habituados à presença humana, no Ceará, é a primeira vez em um contexto da epidemia.
Artigo
O tema foi tratado em artigo assinado por Nogueira e pesquisadores de diversas instituições, publicado recentemente na Scientific Reports, Relatórios Científicos em português, do grupo Nature. “Para levar adiante o estudo, induzimos infecção experimental por zika em macacos vivos. E a inoculação dos vírus provocou viremia [presença de vírus no sangue]. Os macacos tiveram alteração de comportamento, confirmando nossa hipótese inicial de que a infecção os teria tornado mais suscetíveis a serem capturados e mortos”, disse Nogueira.
O artigo destaca ainda que “mais estudos são necessários para entender o papel que esses animais podem desempenhar na manutenção do ciclo urbano do vírus zika e como eles podem ser um canal no estabelecimento de um ciclo de transmissão enzoótica [em animais não humanos] na América Latina tropical”. Um dos autores da publicação, o professor no Centro de Doenças Tropicais da UTMB, Nikos Vasilakis, alerta ainda: “nossas observações terão implicações importantes na compreensão da ecologia e da transmissão de zika nas Américas”.
Passos
Segundo Vasilakis, embora este seja um dos primeiros passos no estabelecimento de um ciclo de transmissão entre primatas não humanos no novo mundo e mosquitos arbóreos, as implicações são enormes, pois é impossível erradicar esse ciclo de transmissão. Logo, se essa epidemiologia for confirmada, o combate à zika poderá ser muito mais árduo do que se supunha.
Para a CNM, as informações são de extrema importância e devem acender um farol vermelho nos gestores locais. O conselho da entidade é para que as prefeituras atuem, intensamente, em ações preventivas. Uma vez que o Aedes aegypti é o transmissor da dengue, da zika e da Chikungunya, além da febre amarela, o combate a proliferação é fundamental. Isso, por meio, de ações simples, como eliminar os criadouros e os ambientes de água parada.
Da Agência CNM de Notícias, com informações da Fapesp